Eu a conheci por acaso, aquele verão nos
envolveu numa louca onda de calor, nos encontrávamos sempre que possível, as
horas viravam minutos e a maré de sua voz doce colidia ferozmente contra meu
temperamento seco e arenoso. Ela ria das minhas antigas frustrações, das minhas
piadas sem graça, e até da minha mania de mudar de assunto quando deixava
escapar algo fofo, sim, chorava na mesma intensidade quando me via triste,
dopado de remédios e com os olhos sem vida e opacos, como um manequim, nunca
foi minha intenção que ela ficasse mal, não por mim, mas a vida é bem clara a
respeito disso, quase tudo que acontece no final das coisas independe da nossa
vontade.
Numa noite qualquer nós nos esquecemos do tempo, silenciamos
os celulares, e rasgamos a cidade, eu mostrei os lugares aonde ia para
escrever, onde ia odiar o que tinha escrito, e onde me afogava em bebida
enquanto lamentava nunca chegar onde queria, claro, também o meu refúgio, onde
olhava o céu cheio de estrelas, onde as palmeiras dançavam com o vento, nos
beijamos violentamente, sem preocupações, mas quando o sol ameaçou nascer, eu
resolvi leva-la para casa, mesmo que nosso fôlego não tivesse morrido.
- Você sabe dizer o que sente por mim, João? - Disse ela.
- Eu gosto de passar o tempo com você, mas não sei o que
sinto. E quanto a você? - Respondi.
- Sei sim, exatamente, e é justamente isso que tanto me
assusta.
Nunca soube nomear sentimentos, é como tentar definir uma
sinfonia inteira em apenas uma nota, não cabe, explode como o som da nossa pele
que se choca entre os lençóis, transborda como suas lágrimas naquele filme
bobo, ou em alguns casos apenas definha, até que você percebe que tudo que
sobrou foi o silêncio. E o silêncio eu não posso permitir, não importa se somos
amantes eternos ou só um romance de verão, eu nunca poderia suportar ser o
responsável por silenciar sua alma, e repentinamente me dar conta que sou
apenas mais um cara num bar sem nada a dizer, com uma mulher ao meu lado de
braços cruzados e olhar tedioso.
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