sábado, 14 de julho de 2018

Sofrimento numa noite de verão

           Naquele dia eu quis me jogar do quarto andar, mais que nos outros dias, fantasiei e ensaiei dezenas de vezes, imaginava o barulho seco que meu crânio faria contra o asfalto, e como teriam que me velar com o caixão fechado, porque minha cara se confundiria num amaranhado de pele e ossos feio e sem sentido.
           Pensei em todas as mulheres que já passaram pela minha vida, tudo pareceu nebuloso, como quando você está em um sonho e começa a acordar e então os objetos escapam das suas mãos ou são atravessados por elas, você então percebe que não é real e a consciência te suga para a realidade, como a descarga suga merda.
             Eu sei que é uma comparação vulgar, mas é exatamente por isso que serve tão bem, por mim, por todos que magoei, por todas as expectativas que destruo pouco a pouco, minhas ou de quem me acompanha, sempre achei que era um elogio quando me diziam que eu nunca paro de surpreender, mas sabe, não existem só surpresas boas, e no momento apesar de eu parecer um bolo de aniversario gigantesco e apetitoso, estou podre por dentro, o mais leve toque e você pode conseguir sentir a acidez e os vermes.
         O céu estava lindo, um laranja forte tocava o azul escuro profundo que começava a parecer preto pouco a pouco, minha cabeça doía e pesava por causa da maldita sinusite, mas tudo bem, os pensamentos anteriores faziam aquela dor parecer irrelevante, e além do mais, já era sexta feira, e se fosse pra morrer que fosse só por dentro, afogado no ardor do álcool ou quem sabe sufocado pela fumaça do cigarro que já prometi largar tantas vezes, Bukowski sempre dizia afinal:
           
            "A tristeza me recobre
           E mando a cerveja goela abaixo
           Peço uma bebida forte 
           Rápido
           Para adquirir a garra e o amor de
           Continuar!"
            

                 


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