segunda-feira, 2 de maio de 2016

Não seja o pequeno príncipe, foda-se a rosa.

          Me despedi com um abraço frouxo e virei as costas, olhei a rua que se estendia na minha frente até sumir no horizonte, engoli seco, saliva e todas as palavras que eu gostaria de ter dito e ficaram entaladas na garganta. Um cachorro abanava o rabo próximo da esquina, começou a me seguir, como se entendesse que tudo que eu precisava naquela naquela noite onde o vento gelado castigava a pele, era uma boa companhia.
          Andei pelas ruas da cidade sem destino certo, era a minha atividade mais frequente ultimamente, quando meus pés arderam me sentei em uma calçada suja, acendi um cigarro, soprei a fumaça no focinho do cachorro que rosnou baixo em tom de desaprovação e em seguida se deitou em meus pés. O som calmo e melancólico que só The Smiths tem ecoava no meu fone de ouvido meio estragado e fazia aquela cena se tornar digna de um Tumblr qualquer feito por um adolescente revoltado.
           Peguei meu celular e então comecei a ler os status das pessoas, todas aquelas frases tristes e apaixonadas, toda aquela liberdade e amor próprio que as meninas exibiam no status enquanto no mundo real se prestavam a qualquer coisa, os garotos com frases subliminares sobre como estão se sentindo sozinhos, querendo não demonstrar como o sexo masculino é frágil e abalável, muito mais do que as mulheres pensam.
            Soprei fumaça no focinho do cachorro mais uma vez, depois outra e mais outra, a reação era sempre a mesma um leve rosnado em seguida o perdão e uma lambida leve na perna. No final é isso que estamos fazendo não é? Todos nós, perdoando pequenas ofensas de pessoas que mal conhecemos e esperando um afago por menor que seja, somos uma geração doente, de pessoas carentes que só se sentem bem com companhia, não importa o efeito colateral.
              Em relação a pessoas criadas lendo uma obra doentia sobre dependência como pequeno príncipe, não poderia esperar mais, aceitamos qualquer merda desde que tenhamos um buraco quente em que nos enfiar a noite.
         

Um comentário:

  1. Parabéns amigo. Seus contos são profundamente marcantes, escrita simples e ao mesmo tempo cheia de conteúdo. A visão do eu lírico é deliciosamente trágica.

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