Me despedi com um abraço frouxo e
virei as costas, olhei a rua que se estendia na minha frente até sumir no
horizonte, engoli seco, saliva e todas as palavras que eu gostaria de ter dito
e ficaram entaladas na garganta. Um cachorro abanava o rabo próximo da esquina,
começou a me seguir, como se entendesse que tudo que eu precisava naquela
naquela noite onde o vento gelado castigava a pele, era uma boa companhia.
Andei pelas ruas da cidade sem destino certo, era a minha atividade mais
frequente ultimamente, quando meus pés arderam me sentei em uma calçada suja,
acendi um cigarro, soprei a fumaça no focinho do cachorro que rosnou baixo em
tom de desaprovação e em seguida se deitou em meus pés. O som calmo e
melancólico que só The Smiths tem ecoava no meu fone de ouvido meio estragado e
fazia aquela cena se tornar digna de um Tumblr qualquer feito por um
adolescente revoltado.
Peguei meu celular e então comecei a ler os status das pessoas,
todas aquelas frases tristes e apaixonadas, toda aquela liberdade e amor
próprio que as meninas exibiam no status enquanto no mundo real se prestavam a
qualquer coisa, os garotos com frases subliminares sobre como estão se sentindo
sozinhos, querendo não demonstrar como o sexo masculino é frágil e abalável,
muito mais do que as mulheres pensam.
Soprei fumaça no focinho do cachorro mais uma vez, depois outra e
mais outra, a reação era sempre a mesma um leve rosnado em seguida o perdão e
uma lambida leve na perna. No final é isso que estamos fazendo não é? Todos
nós, perdoando pequenas ofensas de pessoas que mal conhecemos e esperando um
afago por menor que seja, somos uma geração doente, de pessoas carentes que só
se sentem bem com companhia, não importa o efeito colateral.
Em relação a pessoas criadas lendo uma obra doentia sobre
dependência como pequeno príncipe, não poderia esperar mais, aceitamos qualquer
merda desde que tenhamos um buraco quente em que nos enfiar a noite.
Parabéns amigo. Seus contos são profundamente marcantes, escrita simples e ao mesmo tempo cheia de conteúdo. A visão do eu lírico é deliciosamente trágica.
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