Sai de casa, senti a cabeça leve, os braços
frios, malditos analgésicos, andei pela cidade, ainda tinha tempo, mas afinal
pra onde eu estava indo? Olhei em volta, vi o vento balançar as palmeiras, as
pessoas sorrirem, ouvi os sons que os carros tunados faziam ao passar por mim,
que lugar engraçado, embora fosse o interior mineiro eu podia jurar por alguns
segundos que estava na Califórnia.
Caminhei em direção a uma velha e manchada escada de
poucos degraus, localizada do lado de fora da escola onde estudei os meus
primeiros anos, pensei em todos os meus antigos colegas, as garotinhas por quem
soltava suspiros, o bolo de chocolate quentinho no lanche, aquela pobre
tartaruga que colocávamos de patas pra cima, pra onde todos estão indo?
Me sentei no último degrau, poucos minutos depois tinha
companhia, quando finalmente chegou tudo que conseguimos foi trocar algumas
palavras antes de nossos lábios finalmente se encontrarem, em uma dança úmida,
lenta, com gosto de tic-tac de laranja, era bom não pensar em nada pra variar, apenas
sentir, então algum tempo depois ela teve que ir embora, na despedida trouxe a
tona a maldita pergunta, pra onde eu estava indo.
Não tive resposta, o tempo pareceu parar, afinal pra
onde eu estava indo? Ficar com uma garota bonita? Escrever bobagens em um blog?
Me formar? Ter filhos? Ter emprego? Divórcios? Pensão? Alcoolismo? Crise de
Meia idade? Comprar pão na esquina? Um bordel? Construir bens? Ter um legado?
Mudar o mundo? No final não vamos todos pro mesmo lugar? Gandhi, Kurt Cobain, o
padre da sua igreja, seus pais, as prostitutas, os mendigos, os bilionários,
todos, não estamos indo no final das contas pro mesmo lugar? Não acabamos da
mesma forma? A única diferença é o caminho afinal, então respondi finalmente.
- No final isso não importa certo? Nós temos
esses pedaços estranhos de carne saltando do rosto e nem pra isso ligamos.
- Meu nariz não é estranho, idiota.
- E os bicos dos patos?
- O que???
- É, eles são bonitos?
- O que tem isso com o assunto? São só bicos
de patos iditoas.
- Diz isso porque não é um pato...
- Eu vou embora, João.
- Pra onde você vai?
- Pra casa, é claro.
Aquilo me pareceu extremamente estranho, certo,
familiar, nos abraçamos, voltei a andar, passei pela praça da cidade, encontrei
um amigo, trocamos algumas palavras e o assunto acabou, então ele me pergunta
pra onde estou indo, que noite estranha, eu finalmente sabia a resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário