quinta-feira, 14 de abril de 2016

Um evento exagerado de forma clichê

         O barulho estridente do despertador, choro de bebê, os baques da maquina de lavar, o maldito cachorro da vizinha latindo sem parar, como pode o sujeito manter seu humor elevado quando infernizam-lhe tanto a cabeça antes mesmo dele calçar seus sapatos e sair da cama?
          Chego no banheiro, encaro a imagem no espelho, olheiras enormes, olhos apagados, cabelo desgrenhado, barba mal feita, suspiro, me pergunto então por que depois de tanto tempo ainda são raras as noites em que não sonho com "a garota".
           Então me foco em ler Bukowski, busco um refúgio livre de sentimentos bobos e clichês em suas palavras cruas e reais, tento todo o tempo ser abraçado pelo amargo e cinza de suas histórias, bebida, charutos, corrida de cavalos, nada fez sentido, afinal essa noite eu havia sonhado com ela e mais uma vez minha cabeça estava bagunçada demais pra me focar em ser o babaca de sempre, sem fé nas pessoas, tudo que queria era acreditar em algo, e desejar que aquele sonho se tornasse real, bom, não aconteceu, então parti pra cima de uma garrafa de vodka bem real.
             Sonhei acordado com a primeira e única vez em que realmente vi aqueles olhos castanhos imensos na minha fente.
              Tentava mais uma vez acender o cigarro enquanto um vendaval passava por mim, impaciente já havia tentado três vezes sem sucesso, sinto o calor de duas mãos se aproximarem do meu rosto, pálidas e pequenas, formam uma "cabaninha" em volta do cigarro que finalmente queimava, agradeci, ela sorriu da maneira mais clichê possível e partiu na direção do ônibus, não consegui proferir nem mesmo uma palavra enquanto ela se afastava cada vez mais.
               Entrou no ônibus, sentou, acenou, esbocei um leve sorriso.
               O vento apagou o cigarro.
               Droga.
         
       
       

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