Acordei assustado mais uma noite, ou mais um dia, o tempo as vezes não é muito claro na minha cabeça, minhas paredes são pretas e a cortina está sempre fechada, sentia o suor escorrer da minha nuca e o cheiro de comida velha que emanava das caixas de pizza empilhadas em um canto qualquer do quarto. Levei as mãos no rosto como se aquilo pudesse conter a angústia que eu sentia, mais uma vez sonhos ruins me atormentavam, tão vívidos que podia sentir minhas entranhas se contorcendo.
Sempre começa casualmente, minha mente me coloca em algum lugar familiar, e eu me vejo impotente em meio a cena, as pessoas agem estranho, o desprezo por mim é nítido em cada rosto, por mais que eu tente agradar ou implorar afeto, as coisas escalam até que fico choroso e agressivo e então eu acordo mais uma vez, com um nó na alma e a sensação de não pertencer mais ao mundo, pelo menos não o meu.
Eu sempre consegui lidar bem com a dor, quando era criança eu descontava na comida, quando era adolescente demonstrava desprezo pelos outros, e em seguida passei a alargar as orelhas, pra que a dor física substituísse a psicológica e eu ainda pudesse tirar algo bom daquilo, em seguida conheci Bukowski, me afoguei em seus livros, maços de cigarro e garrafas de cerveja. Hoje não faço mais isso, nada disso, a dor acumulada em meu tempo de inércia parece agora escorrer leve e venenosa por todo o meu crânio e entranhar o meu cérebro, fazendo com que meus sonhos ruins e pensamentos mais sombrios arranhem as paredes da minha cabeça constantemente.
Quando era criança os pesadelos sempre se tratavam de monstros, fantasmas ou qualquer coisa do tipo, hoje já não me preocupo com isso, eles são piores, são sobre interação humana, amor, amizade, embora inofensivos no começo, como se algum pudesse tecer com grotescas mãos invisíveis o avesso dos seus melhores sonhos, onde tudo que é bom apodrece, e o que já não presta intoxica mais ainda.
Não há forma sensata que eu possa descrever cada um deles, até mesmo porque não fariam sentindo para a maioria das pessoas, é como quando um personagem do Lovecraft encara uma entidade cósmica tão horrível e subjetiva que a consciência humana não consegue entender direito do que se trata, apenas tremer em estado de choque e loucura.
Saio do meu devaneio, vou até o banheiro e lavo o rosto, coloco um som Shoegaze pra tocar e fico imerso em minha própria presença, penso no meu trabalho, na faculdade, nas pessoas que cruzam meu caminho, e esboço um sorriso amargo ao perceber que estar acordado não é tão diferente, do sonho ao menos posso acordar, sair de lá, mas e a vida? Pra escapar só existe uma saída, e embora tentadora, minha covardia tão enfatizada por meus atormentadores noturnos não permite que eu prossiga. Assim eu sigo, uma noite por vez, até que o tempo, implacável e infinito execute a tarefa em meu lugar.

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