Eu sempre gostei de escutar, escutava o que as pessoas tinham a
dizer todo o tempo, na fila do banco, no trabalho, no mercado, em casa,
atravessando a rua, onde quer que seja sempre havia alguém disposto a me
inundar com uma enxurrada de informações pessoais das quais eu nunca perguntei.
Acho que algumas pessoas nascem assim, com cara de confessionário, com o tempo
me acostumei, aprendi que o melhor conselho é o silêncio, a última coisa que
uma pessoa com problemas quer é a solução, a magia está em reclamar, em mostrar
ao mundo: OLHA EU SOFRO HORRIVELMENTE, MAS EU SOU FELIZ OK? É como as coisas
acontecem, as pessoas reclamam, os velhos morrem, o orvalho evapora, e não tem
nada de errado com isso, contanto que você esteja verdadeiramente feliz, há
menos de uma semana, eu fui.
Eu poderia morrer ali mesmo,
sempre imaginei minha morte assim, na companhia de alguém que amo, repentina e
indolor após um momento feliz, não vejo glamour em envelhecer, lutar pela vida
ou ver minhas relações se deteriorarem assim como meu intelecto.
Devia ser umas 03:00 da manhã,
eu fumava na janela, toalha na metade da cintura, enquanto olhava as estrelas
por cima do muro cinza chapiscado. Eu tragava bem fundo e serrava os olhos mais
uma vez em direção ao céu, o vento acertava meu rosto, naquela noite de verão
não era o bastante pra esfriar, nesse momento na verdade, nada poderia, deitada
na cama ao lado, com seus cabelos negros e respiração profunda estava a razão
de tanto calor. Me virei em sua direção e acariciei sua bochecha abaixo do delineado, senti seu perfume doce e o cheiro da fumaça invadirem minhas
narinas, e aquele momento é tudo que existe.

Nenhum comentário:
Postar um comentário