sábado, 4 de novembro de 2017

Dormindo com uma Sereia


Ouvi o seu canto, senti suas escamas,
Na beira do mar, conheci essa dama.
Peixe ou mulher, que droga era aquela?
Só um barril de rum me deixou matusquela?

Apalpei aquela moça, apesar da cauda,
Do bafo de peixe, e de ser desdentada.
Pra alguém como eu, ela tinha o que bastava,
Tetas bem fartas, pra fazer de almofada.

A noite foi longa, só lembro metade,
Um cigarro verde me deixou à vontade.
As estrelas brilhando, a moça cantando,
O rum me espancou, cabeça girando.

Acordei de ressaca, com as calças abaixadas,
Revirei minhas coisas, de maneira apressada.
Mulher ou sardinha, peixe-boi ou sereia,
Só sei que a maldita levou minha carteira.





domingo, 17 de setembro de 2017

Quinta-feira não dormi.

        Nós saímos pra tomar umas cervejas aquela noite, era bom rever um velho amigo, depois de tanto tempo ainda conseguíamos fazer as piadas de sempre, ouvimos a banda de sempre, comemos a pizza de sempre, e o engraçado é que embora muita coisa tivesse mudado a situação ainda era a mesma de antigamente, um de nós fodido, e o outro tentando ajudar, nunca acabava bem pra nenhum dos lados, mas era bom falar com alguém que não fosse só oferecer soluções obvias e genéricas pra variar.  
          - Tínhamos só 15 a ultima vez que viemos aqui lembra? - Disse eu.
          - É, muita coisa aconteceu, mas quem fode minha cabeça não mudou.
          - Cara, você tem um problema sério com boceta.
      Aquele riso azedo de quem simplesmente desistiu de achar uma solução pro problema preencheu o ambiente, decidimos que era melhor manter o foco em lembrar da época da escola, afinal depois que toda a merda acaba, o que contamos a nós mesmos nas lembranças é sempre mais doce do que realmente foi, não era uma melhora definitiva, mas pra espantar os fantasmas daquela noite essa distração bastava.
           Na mesa ao lado um grupo de garotas tagarelava sem cessar, sobre quem tinha o pior namorado, era tanta reclamação que pareciam competir pelo titulo de detentora do relacionamento mais miserável do ano. Falavam sobre tudo, de ciúme a hábitos ruins de higiene, por deus, elas pareciam descrever um Neandertal, mas que surpresa, nenhuma delas reclamou do sexo, muito pelo contrario, quase em uníssono ressaltavam que isso era bom demais. Nós ouvíamos a conversa, com um misto de pena e chacota.
         Aparentemente a maioria das relações se baseava nisso, e as que não fossem desse tipo eram uma consequência delas.
            VIVA A PIROCA - Exclamei.
            VIVA A BOCETA - Disse ele.
            Brindamos.
            Saímos dali acompanhados do olhar de ódio das garotas, com passos tortos e embriagados.


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Um grande balde de merda


          Nada preenche melhor um ambiente que o barulho estridente de um boteco, e foi assim que tudo começou, entre tragos e copos, eu era louco por pernas, e ela tinha um par de belos exemplares, além daqueles olhos de cachorro abandonado, que me perseguiam, nunca tive nada de atraente, não que isso seja ruim, na verdade é até bom, ajuda a manter as expectativas baixas, em seguida tudo que eu falar parecerá compensar a aparência, desde que não seja um amontoado de asneiras. Resolvi arriscar, cheguei perto e disse pra que saíssemos dali, ela relutou.
          - Escuta meu bem, esse não é um lugar ideal pra se passar a noite, é só um meio de ser convidada pra algo melhor, você sabe disso, e no final das contas se eu for tão ruim assim, você só terá perdido uma noite.
          Ela concordou e saímos, os olhares nos perseguiam, pasmos por um cara como eu ter tido sucesso em algo, andamos pela cidade, a pé, tudo que eu tinha afinal era uma garrafa de vinho, que agora se encontrava com os lábios dela, era uma linda cena, não era a boca mais sensual do mundo, mas ainda assim me prendia. Falamos sobre a vida e as pessoas, e a noite seguia rápida, o vinho acabou e nos sentamos na calçada pra olhar o céu, eu a envolvi em meus braços e pouco tempo depois nossas línguas dançavam juntas, por todo o resto da noite.
          Antes de partir ela perguntou meu nome.
          - Não importa meu bem, a vida tem sido um grande balde de merda, só fico feliz de encontrar alguém que divida o mergulho comigo algumas vezes.
         Ela se despediu e sumiu, não sei seu nome, onde mora, nem mesmo se é apenas uma prostituta que se solidarizou, e isso pouco me importa, o dia vai ser cheio, e eu continuo aqui, boiando em toda a merda, sozinho afinal. 

domingo, 13 de agosto de 2017

Eu acredito em você!


          Certo dia uma garota me procurou, consternada, disse temer que o tempo passasse muito rápido e levasse junto todo seu potencial, estava coberta de dúvidas e cobranças, assim como Aristóteles todos que conhecia queriam ver toda sua potência transformada em ato, mas onde ficava sua vontade nisso tudo? É uma obrigação se destacar? Se você não for um sucesso será automaticamente um fracasso? Onde diabos afinal se encontra o justo meio?
          Mas o que é sucesso? Qual a medida exata? Qual o modo de preparo? Isso tudo se resume a ganhar muito dinheiro? Essas palavras perseguem muitos e muitos jovens, as pessoas que nos cercam e que em geral gostam da gente, tendem a projetar visões utópicas e relativas de um possível referencial de sucesso, mas isso é apenas o que esperam de nós, sua perspectiva, o que torna impossível o alcance de tal coisa, pois, se você deseja ser feliz, não pode passar a vida vivendo a projeção de outra pessoa sobre seu futuro.
          Somos acostumados a ouvir: Você tem muito potencial! Mas se decidimos usar esse potencial pra qualquer coisa que não esteja no padrão da alta sociedade, somos julgados, acusados de estar desperdiçando o mesmo, como se a felicidade estivesse relacionada com a opinião pública, não com o que se sente por dentro, e nós seguimos esse caminho, fazemos o que não queremos, vestimos roupas que não gostamos, convivemos com quem nos faz mal, tudo pelo simples fato de que, em algum ponto da vida deixamos de acreditar em nós mesmos, e começamos a acreditar na projeção dos outros sobre nós.
          Então, liberte-se disso, se você quer usar seu potencial pra ser artista de rua, músico, pedreiro, açougueiro, caixa, coletor de lixo, zelador, tudo que a sociedade julga preconceituosamente como desperdício de talento, como algo banal, como a coisa mais simples do mundo, apenas faça, faça com paixão, dedique-se, coloque toda sua vontade, e não ligue pra opinião de quem não vive a sua vida, afinal quando você deita pra dormir toda noite, é com os seus pensamentos que você tem que estar em paz, é você que vive em sua mente, mais ninguém, você passou toda a sua infância acreditando em Papai Noel, coelho da páscoa, lobisomem, seria demais acreditar em si mesmo só por um dia? 

quinta-feira, 9 de março de 2017

Cuidado, Ego frágil.

           As conversas das pessoas sentadas na minha frente se misturavam, num zum zum zum sem fim, duas coroas sorriam ao me encarar e trocar comentários sobre qualquer coisa inaudível, era tudo muito caótico, diferentes cores, risadas, assuntos, uma colmeia humana de pessoas totalmente diferentes, sorri, fui pra fora da sala e acendi um cigarro, nunca fui muito bom em participar de confraternizações, meu humor me condena, então prefiro me fazer de estátua por um tempo e escapar em seguida.
           No reflexo do celular eu percebia minha feições grosseiras iluminadas pela luz oscilante do cigarro, nada com que eu me importasse muito, no momento eu só queria um rio de cerveja ou qualquer outro bagulho que me ajudasse a sentir que eu era parte daquilo, que me deixasse suave, li algumas conversas no meu celular, muita gente dizendo que sou grosso, começo a ver isso como um elogio, tudo que eu falava diretamente as pessoas falavam pelas costas, e eu sinceramente prefiro ser um babaca sem tino social do que alguém sem caráter.
            Pisei na bituca, e fui embora dali, o celular tocou, era engano, pensei em como esses toques de modernidade estragam qualquer boa história, não vivo no passado, não enviamos cartas, não brigamos com as próprias mãos, o fora da lei que luta pelo bem não tem mais espaço, me senti sufocado em minha própria existência, pensei em Bukowski por um momento, esse sentimento passou, tudo que tenho são minhas palavras, se isso incomoda tanto, não sou eu que sou grosso, você que é fino demais. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Como fumaça, Ela se foi.

          Andei por todas aquelas ruas conhecidas, fiz o caminho da minha antiga escola, passei em todos os lugares onde costumávamos ir, percebi que quando Leoni e Frejat diziam "Tudo me traz você" eles estavam errados, nada pode te trazer aqui, é só uma lembrança e depois de tudo não passamos de desconhecidos. A gripe misturada com cigarro era uma merda, ainda assim acendi mais um, sorri ao pensar naquilo, você assim como essa mistura me tirava o ar, eu sei que me faria mal a longo prazo, ainda assim o prazer em te ter entre os meus lábios parecia compensar todos os riscos.
          Comprei algumas cervejas, sentei no canteiro da BR que corta a cidade e fiquei observando, as garotas com saias curtas, nas esquinas, os senhores que paravam e escolhiam alguma de tempo em tempo, elas sempre voltavam em poucos minutos, com o bolso mais cheio e o olhar mais vago, é triste, dinheiro em troca de afeto, afeto em troca de dinheiro, mas como culpar alguém? Todas as nossas relações são baseadas em trocas, no fim das contas o que muda é a moeda utilizada e o valor que ela tem pra cada um.
           Fui pra casa quando acabei de beber, cansado de pensar em tudo e não pensar em nada, porque por mais que eu tentasse filosofar e refletir sobre as verdades do universo, no plano de fundo da minha mente só encontrava você, cheguei, sentei na cama, peguei o celular e apaguei de vez todas as fotos que ainda sobravam ali, acendi um último cigarro antes de dormir, empurrei algumas roupas pro chão e me deitei, me senti pequeno, e percebi, não importa o quanto eu bagunce meu quarto e meu corpo por dentro, eles sempre estarão vazios sem ela.