As conversas das pessoas sentadas na minha frente se
misturavam, num zum zum zum sem fim, duas coroas sorriam ao me encarar e trocar
comentários sobre qualquer coisa inaudível, era tudo muito caótico, diferentes
cores, risadas, assuntos, uma colmeia humana de pessoas totalmente diferentes,
sorri, fui pra fora da sala e acendi um cigarro, nunca fui muito bom em
participar de confraternizações, meu humor me condena, então prefiro me fazer
de estátua por um tempo e escapar em seguida.
No reflexo do celular eu percebia minha feições grosseiras
iluminadas pela luz oscilante do cigarro, nada com que eu me importasse muito,
no momento eu só queria um rio de cerveja ou qualquer outro bagulho que me
ajudasse a sentir que eu era parte daquilo, que me deixasse suave, li algumas
conversas no meu celular, muita gente dizendo que sou grosso, começo a ver isso
como um elogio, tudo que eu falava diretamente as pessoas falavam pelas costas,
e eu sinceramente prefiro ser um babaca sem tino social do que alguém sem
caráter.
Pisei na bituca, e fui embora dali, o celular tocou, era engano,
pensei em como esses toques de modernidade estragam qualquer boa história, não
vivo no passado, não enviamos cartas, não brigamos com as próprias mãos, o fora
da lei que luta pelo bem não tem mais espaço, me senti sufocado em minha
própria existência, pensei em Bukowski por um momento, esse sentimento passou,
tudo que tenho são minhas palavras, se isso incomoda tanto, não sou eu que sou
grosso, você que é fino demais.
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