Já eram duas da manhã, e
até o tic-tac do relógio parecia ensurdecedor, porque eu havia comprado aquela
merda afinal? Eu sempre olho as horas no celular mesmo. Não conseguia dormir, e
um cigarro atrás do outro nunca ajuda, nem no sono nem na gastrite, sempre me
disseram que as coisas melhoram conforme os anos passam, mas tudo só parece
cada vez mais confuso. Olhei pro teto até o amanhecer, vagando pelos cantos da
mente, cochilando entre lembranças, o domingo havia chegado e aquele dia sempre
ferra com meu humor.
Aquele domingo não parecia fazer sentido, nenhum deles faz, as lojas
fecham, a TV se transforma em uma tortura tediosa, e você se vê preso entre
comédias românticas, que se copiam e não mostram nada além de açúcar sem fim,
sua família se reúne, almoça, e magicamente tudo que falaram pelas costas uns
dos outros durante toda a semana parece não importar, afinal tudo que importa
pra maioria nesse fatídico dia é que a hora de ir pra igreja chegue logo, assim
podemos falar mal da roupa que os conhecidos estão usando livremente, depois
que a hóstia entrar pela boca estaremos salvos mesmo não é? Não importa as merdas
que saíram dela no decorrer da semana.
O engraçado nisso tudo, é que se você não aceita participar desses
rituais, você é que acaba sendo julgado, se você não consegue esquecer as
merdas que aconteceram durante a semana, se você se nega a participar da farsa
do dia perfeito. Mas domingo é um dia qualquer, se você não muda, nada muda,
nos contamos o tempo apenas pra nos organizar e medir o envelhecimento, quem
fala bosta de você ainda é babaca no domingo, o filme sem graça do meio da semana,
ainda não tem graça, o macarrão ainda tem o mesmo gosto, e você não é obrigado
a fingir que tem amnésia, não deixe te convencerem disso.
Nossa João Lucas, você pegou pesado em! Caralho, gostei demais. Muitas coisas que a maioria das pessoas querem dizer mas deixam entalado na garganta. Meus parabéns por mais um texto fantástico/ácido ao mesmo tempo.
ResponderExcluirObrigado pelo apoio amigo, haha.
ResponderExcluirÉ isso ai cara, vamos meter o dedo na ferida.