segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ícaro

               Passei o dia encarando a sua foto, quando a tarde chegou só conseguia pensar no motivo, vasculhei cada canto da minha mente, não encontrei respostas, calcei aquele velho tênis que minha mãe tanto odeia e sai pra ver o pôr do sol, observei os pardais barulhentos que cruzavam o horizonte, indo pra longe, livres, senti inveja, minhas pernas pareciam pesar o dobro do normal.
               Senti o vento bater forte no rosto assim que cheguei ao terraço do único prédio realmente alto daquela confusa cidade, olhei para baixo, e quis mais ainda ser um pássaro, não uma daquelas pessoinhas que corriam pra lá e pra cá gritando em seus celulares e com a cabeça tão vazia quanto a carteira de um universitário.
               O último raio de sol desapareceu, repentinamente aquele espetáculo laranja que cobria minha visão se foi, caminhei para perto do parapeito, senti o metal gelado arrepiar meus cabelos ao passar os dedos por ele, pensei em você, em como um pássaro chegaria rápido até sua casa, não aguentei mais o anseio, me lancei em voo livre, finalmente entendi, não há nada melhor que o abraço apertado da liberdade antes do fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário