O céu parecia mais profundo aquela
madrugada, sentado na janela eu me sentia engolido pelo seu tom azul, escuro,
quase roxo, azul da prússia como dizem os frescos e pós modernos, uma coruja
pousou no muro e me encarou. Eu tragava o cigarro com afinco, a fumaça quente
me causava menos dano que meus pensamentos, eu remoía todas as conversas e me
fodia a cabeça a constatação de que não importa o quanto eu tentasse era quase
impossível convencer alguém que havia um jeito de sair da merda, era horrível
ver alguém que eu gosto sofrer, mas quem diabos sou eu pra falar algo? Atolado
até o pescoço não consigo convencer quem está afundando que tem algo melhor
"lá em cima".
Alguns
dizem que dá pra ajudar o mundo, outros que dá pra ajudar só uma pessoa de cada
vez, mas as vezes você entende que não funciona bem assim, porque no final das
contas a gente passa 90% do tempo sem saber resolver nem os nossos próprios dilemas,
mas nossa síndrome de Wikipedia não deixa que vejamos as coisas assim certo?
Sabemos tudo, de tudo, sobre tudo, sobre todos, menos de nós mesmos, porque
afinal, pra admitir que precisamos mudar temos que admitir que ali existe um
problema, e nosso ego inflado faz questão de mascarar todas as evidências de
que talvez não sejamos portadores da razão.
Nesse
xadrez entre a ignorância e a iluminação, as vezes é difícil saber até que lado
você está, ele nunca tem final, o jogo vira constantemente, e cada movimento
impensado causa um efeito enorme. No final de tudo, eu conclui que tentaria sim
ajudar alguém, mas primeiro tentaria deixar de ser um idiota, joguei a guimba
fora, sorri ao lembrar, "Quando um burro fala o outro abaixa a orelha.".
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