sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Um grande balde de merda


          Nada preenche melhor um ambiente que o barulho estridente de um boteco, e foi assim que tudo começou, entre tragos e copos, eu era louco por pernas, e ela tinha um par de belos exemplares, além daqueles olhos de cachorro abandonado, que me perseguiam, nunca tive nada de atraente, não que isso seja ruim, na verdade é até bom, ajuda a manter as expectativas baixas, em seguida tudo que eu falar parecerá compensar a aparência, desde que não seja um amontoado de asneiras. Resolvi arriscar, cheguei perto e disse pra que saíssemos dali, ela relutou.
          - Escuta meu bem, esse não é um lugar ideal pra se passar a noite, é só um meio de ser convidada pra algo melhor, você sabe disso, e no final das contas se eu for tão ruim assim, você só terá perdido uma noite.
          Ela concordou e saímos, os olhares nos perseguiam, pasmos por um cara como eu ter tido sucesso em algo, andamos pela cidade, a pé, tudo que eu tinha afinal era uma garrafa de vinho, que agora se encontrava com os lábios dela, era uma linda cena, não era a boca mais sensual do mundo, mas ainda assim me prendia. Falamos sobre a vida e as pessoas, e a noite seguia rápida, o vinho acabou e nos sentamos na calçada pra olhar o céu, eu a envolvi em meus braços e pouco tempo depois nossas línguas dançavam juntas, por todo o resto da noite.
          Antes de partir ela perguntou meu nome.
          - Não importa meu bem, a vida tem sido um grande balde de merda, só fico feliz de encontrar alguém que divida o mergulho comigo algumas vezes.
         Ela se despediu e sumiu, não sei seu nome, onde mora, nem mesmo se é apenas uma prostituta que se solidarizou, e isso pouco me importa, o dia vai ser cheio, e eu continuo aqui, boiando em toda a merda, sozinho afinal. 

domingo, 13 de agosto de 2017

Eu acredito em você!


          Certo dia uma garota me procurou, consternada, disse temer que o tempo passasse muito rápido e levasse junto todo seu potencial, estava coberta de dúvidas e cobranças, assim como Aristóteles todos que conhecia queriam ver toda sua potência transformada em ato, mas onde ficava sua vontade nisso tudo? É uma obrigação se destacar? Se você não for um sucesso será automaticamente um fracasso? Onde diabos afinal se encontra o justo meio?
          Mas o que é sucesso? Qual a medida exata? Qual o modo de preparo? Isso tudo se resume a ganhar muito dinheiro? Essas palavras perseguem muitos e muitos jovens, as pessoas que nos cercam e que em geral gostam da gente, tendem a projetar visões utópicas e relativas de um possível referencial de sucesso, mas isso é apenas o que esperam de nós, sua perspectiva, o que torna impossível o alcance de tal coisa, pois, se você deseja ser feliz, não pode passar a vida vivendo a projeção de outra pessoa sobre seu futuro.
          Somos acostumados a ouvir: Você tem muito potencial! Mas se decidimos usar esse potencial pra qualquer coisa que não esteja no padrão da alta sociedade, somos julgados, acusados de estar desperdiçando o mesmo, como se a felicidade estivesse relacionada com a opinião pública, não com o que se sente por dentro, e nós seguimos esse caminho, fazemos o que não queremos, vestimos roupas que não gostamos, convivemos com quem nos faz mal, tudo pelo simples fato de que, em algum ponto da vida deixamos de acreditar em nós mesmos, e começamos a acreditar na projeção dos outros sobre nós.
          Então, liberte-se disso, se você quer usar seu potencial pra ser artista de rua, músico, pedreiro, açougueiro, caixa, coletor de lixo, zelador, tudo que a sociedade julga preconceituosamente como desperdício de talento, como algo banal, como a coisa mais simples do mundo, apenas faça, faça com paixão, dedique-se, coloque toda sua vontade, e não ligue pra opinião de quem não vive a sua vida, afinal quando você deita pra dormir toda noite, é com os seus pensamentos que você tem que estar em paz, é você que vive em sua mente, mais ninguém, você passou toda a sua infância acreditando em Papai Noel, coelho da páscoa, lobisomem, seria demais acreditar em si mesmo só por um dia?