Já teve um daquelas semanas fodidas?
Onde nada parece fazer sentido e você sente que se perdeu em algum lugar há
muito tempo? Essa é uma sensação recorrente na minha vida, como se eu tivesse
deixado de ser alguém e me tornado apenas uma sombra, uma lembrança, de algo
que existiu mas não importa mais, alguém que as pessoas tem que apertar os
olhos como se precisassem de óculos pra perceber que está ali ainda assim sem
conseguir identificar ao certo do que se trata exatamente.
É uma quarta-feira qualquer
e estou em casa, matei aula mais uma vez, a faculdade é muito diferente do que
disseram, eu abro uma lata de cerveja e já não é nenhuma surpresa estar bebendo
no meio da semana, olho no celular e vejo a foto de uma garota, ela é linda e
eu não me sinto bom o bastante para ela, vou até o espelho do banheiro e me
pergunto o que houve, para onde foi aquele moleque que todos elogiavam, tento
lembrar onde tudo mudou, onde eu deixei de ser feliz, a resposta não vem, ela
nunca vem, então só volto para o quarto e existo em um canto qualquer em meio a
melancolia da falta de sentido.
Quando eu era criança sabia
exatamente o que fazer, sabia como seria meu futuro e quais seriam meus
próximos passos, quem eram meus melhores amigos e quem me causava dor, hoje eu
deslizo o dedo por uma grande lista de contatos e sinceramente não sei
diferenciar. A vida parece ser só um amontoado de contas pra pagar que fazem
muito bem o papel de te distrair de quem você realmente é, ainda assim eu não
queria ser rico, se tendo que lutar pra me manter minha cabeça ainda encontra tempo de pensar merda eu imagino como seria sem as preocupações financeiras de
sempre.
Eu geralmente sempre escrevo
quando me sinto mal, e isso me ajuda a colocar a cabeça no lugar, no último
parágrafo uma súbita inspiração toma conta de mim e consigo enxergar meu
problema de fora e encontrar uma solução, hoje isso não aconteceu, mesmo depois
de 8 textos, porque essa angústia não é só minha, somos muitos, jovens, vinte e
poucos anos, contas pra pagar, sem amigos reais ou identidade, marchando
vendados em grandes comboios para o futuro incerto que bate na porta, dia após
dia.
