sexta-feira, 1 de junho de 2018

Peter Parker interiorano

          Vocês já foram em um lugar alto, durante a noite e olharam para a cidade? É incrível como simples luzes de postes podem prender nossos olhos e nos fazer sonhar acordados, como grandes insetos que se chocam contra uma brilhante e intensa lâmpada fluorescente. Ontem subi até a ultima rua do bairro, a mais alta, podia enxergar a luminosidade que se espalhava em pequenos pontos brilhantes até onde a visão alcançava, haviam lotes vazios, áreas escuras, e depois mais brilho. Algum tempo se passou desde que minha ilusão se foi, eu pensei que veria esses lotes se encherem de casas e a escuridão criar luz do lado dela, estava errado, passei a observar uma aranha que estava por ali.
          Ela tecia sua teia graciosamente, sem parar, peguei um graveto e parti um pedaço da teia, ela não voltou pra concertar, só se afastou e seguiu em frente, criando mais e mais fios, não importa quantas vezes eu estragasse seu trabalho, ela só seguia em frente, larguei o graveto. Não me senti culpado, na verdade eu via muito da aranha em mim, de tempos em tempos alguém achava uma ótima ideia partir a teia que nos unia, a gente sempre acha que vai morrer, e que não tem mais nada pra fazer, mas sempre tem, e a gente sempre acha um ou outro motivo pra continuar, sempre em frente, sempre tecendo, com a felicidade de as vezes cruzar a teia com outra aranha especial, e desejar que ela nunca mais se parta.
          Sorri ao sair de meu devaneio, pensei em todas as pessoas que tenho conhecido, e de como fico feliz em saber que a teia do destino nos uniu, mesmo que isso possa ser passageiro, dei uma última olhada pra cidade, abaixei o boné no rosto, peguei o celular e mandei uma mensagem, sai dali sorrindo e assoviando, não sabia ao certo pra onde ir, mas não podia ficar parado, e assim tecendo minha teia, eu fui.